A jazida de Icnofósseis da Praia do Cavalo situa-se nas arribas do Cabo Espichel, seguindo em direcção Sul às da Pedra da Mua, nas coordenadas (38º 25’ 07’’ N; 9º 13’ 03’’ W) em lajes sedimentares do Jurássico Superior (Portlandian A, sensu Ramalho, 1971) de há 142 – 146 Milhões de Anos. Apresentando um excelente alinhamento de 11 pegadas tridáctilas produzidas por um grande Terópode (Dantas et al, 1994). Foi estudada, por P.Dantas, V. Santos , M Lockley e C. Meyer, que demonstraram tratar-se de mais um caso de um dinossáurio que “coxeava”. Tal como outros exemplos bem documentados, desde o Jurássico médio até ao Cretácico médio, sendo sete de Terópodes ( Estados Unidos, Espanha e Portugal) e dois de Saurópodes (Marrocos e Portugal).

As pegadas encontram-se na laje que limita a Sul a pequena praia, sendo o acesso bastante difícil e perigoso, sendo recomendável a via marítima. 

Recorrendo a uma tabela publicada por Dantas et al,, 1994. Vamos constatar e determinar o que se pode concluir desses valores.



Tabela I (adaptada de Dantas et al,, 1994)

As pegadas foram atribuídas a um Megalosauripus (M.Lockley, C.Meyer, 1999) cuja marca do pé em valor médio apresentava o comprimento de 66,7 cm e a largura de 57,1 cm. Aplicando a fórmula adequada a grandes Terópodes (Santos, 2008), determinamos o valor expectável para o comprimento do membro até ao acetábulo (articulação da anca), que neste caso seria de 3,27 metros.




O icnogénero Megalosauripus é caracterizado por dinossáurios Terópodes, carnívoros de enormes dimensões, em Portugal registam-se as maiores impressões tridáctilas, na Pedreira do Zambujal - 77 cm, na Praia do Cavalo - 67 cm, no Cabo Mondego - 60 cm e em Vale de Meios - 58 cm. Quanto ao tipo de deslocação usamos a razão entre λ/a, sugerida por Thulborn, 1982; e Wade, 1984 e obtemos um valor igual a 1,14 o que recorrendo á respectiva tabela [ Marcha se λ/a < 2,0; Trote se 2,0 < λ/a < 2,9; Galope se λ/a > 2,9 ] nos indica que o animal se deslocava em marcha.

Finalmente usando a fórmula de Alexander proposta em 1976 determinamos o Valor da velocidade com que o Terópode se deslocava. Obtendo-se o valor de 6,37 km/h.



Vamos agora observar, as discrepâncias que o valor do passo entre as 11 impressões das patas do dinossáurio, evidenciam. E que os investigadores documentaram (Dantas et al,, 1994). Atente-se no quadro seguinte e nos valores anteriormente citados na Tabela I.

Torna-se demais evidente que o terópode caminhava com consecutivos passos curtos e longos que oscilavam entre 172 (R - direita / L- esquerda) a 215 cm (L- esquerda / R – direita). O que nos leva a pensar, de imediato, que o animal deveria ter ou uma deformação congénita ou recente na pata ou na perna esquerda (Dantas et al,, 1994). Tal como o caso de Marrocos, ilustrado por Ishigaki (1986), onde a impressão da pata apresentava uma anormal configuração de um dos dedos (Lockley et al, 1994). Se compararmos com o caso registado nas Astúrias em Espanha, onde as pegadas revelam ou uma má formação ou uma possível fractura num dos dedos do pé do terópode, verifica-se que não ocorreu a existência de passos curtos e longos (M. Avanzini et al, 2008), o que segundo os autores se deve a que a possível patologia se tenha verificado muito tempo antes da impressão das pegadas, o que não deve ter acontecido com o caso de Marrocos.

No nosso caso, infelizmente as impressões não são suficientemente detalhadas para poderem demonstrar tal deficiência, o que nos remete para o caminho da especulação sobre o motivo de tal comportamento, típico de um animal a coxear e as alternativas são: O animal deslocava-se num eixo e estava a olhar para outra direcção que lhe despertava interesse? E deste modo pendia para o lado esquerdo. 
O animal tinha uma deformação ou ferida na perna ou no lado esquerdo do abdómen que lhe tolhia os movimentos da pata esquerda? Sendo a patologia recente.
O animal carregava nas mandíbulas uma presa suficientemente pesada? O que lhe provocava o desequilíbrio demonstrado no seu trilho impresso.

Em Portugal, surgiram os seguintes casos alem do acima referido: Pedreira do Cavalo relativo a um Saurópode (Dantas et al,, 1994), Praia dos Olhos de Água, Óbidos a pista B relativa a um Terópode (O.Mateus e M.T.Antunes, 2000) e recentemente na pista 3 da Pedreira da Amoreira , e na pista 8 Vale de Meios.

Texto: Orlando Pinto, 2015

Origem das fotografias: Atrox1.deviantart.com ; Google Maps

Bibliografia: Footprint Evidence For Limping Dinosaurs From The Upper Jurassic Of Portugal, P. Dantas, V. Santos, M. Lockley, C. Meyer, 1994; Dinosaur track sites from Portugal: Scientific and cultural significance, V. Santos, C. M. Silva, L. Rodrigues, 2008; Dinosaur Tracks and Other Fossil Footprints of Europe, M. G. Lockley, C. Meyer, 1999; Rastrilladas de icnitas terópodas gigantes del Jurásico Superior (Sinclinal de Iouaridène, Marruecos). M. Boutakiout, M. Hadri, J. Nouri, I. Díaz-Martínez, & F. Pérez-Lorente, 2009; A new dinosaur tracksite in the Lower Cretaceous of Portugal, O. Mateus & M. Telles Antunes, 2000; Theropod Palaeopathology inferred from a Late Jurassic trackway, Asturias (N. Spain). M. Avanzini, L. Pinuela & J. C. Garcia-Ramos, 2008; Unusual sauropod tracks in the Jurassic-Cretaceous interval of the Cameros Basin (Burgos, Spain) F. T. Fernández-Baldor, I. Díaz-Martínez, R. Contreras, P. Huerta, D. Montero, V. Urién, 2014; Megalosauripus and the Problematic Concept of Megalosaur Footprints, M. G. Lockley, C. A. Meyer, V. F. Santos, 1998