A nova pista de Dinossáurios será a 6ª no Concelho de Sesimbra, denominei-a de Pista MT, já que não conheço nenhuma referência da mesma. Neste estudo preliminar descrevo apenas o possível, de acordo com a informação que disponho. Detectei-a casualmente quando ampliava umas fotos, que tinha tirado no final de 2015. Situa-se nas arribas do chamado Focinho do Cabo Espichel. Depois da jazida da Pedra da Mua, maís a Sul, ainda depois da jazida da Praia do Cavalo, sempre na orientação Sul, na zona denominada Segredos nas coordenadas (38º 24’ 52.0’’ N; 9º 13’ 12.5’’ W).

Ocorre em lajes sedimentares do Jurássico Superior, que dada a proximidade com os sedimentos da Pedra da Mua e da Praia do Cavalo, do Portlandiano de há 142 – 146 Milhões de Anos, (Ramalho, 1971), penso que estas também sejam da mesma época. As arribas nesta zona são formadas por calcários, calcários argilosos, margas e arenitos, numa sucessão contínua de camadas muito inclinadas para Norte, terminando na superfície de aplanação do Cabo à cota de 130 a 140 m. Provenientes de sedimentos de diferentes tipos de ambientes costeiros, ricas em fósseis de bivalves, gastrópodes, ostracodes, foraminíferos e algas calcárias (Lockley et al., 1994)

As fotos foram tiradas da ponta de uma arriba na zona do farol mesmo em frente das lajes. O acesso a esta jazida de icnofósseis, devido à inclinação que apresenta, só pudera ser feito por corda e com equipamento de rappel, reunindo condições de segurança, pelo que ainda não me foi possível recolher fotos e medidas suficientes para um estudo completo da mesma. Apresenta pelo menos 3 níveis estratigráficos, onde se notam alguns trilhos e numerosas pegadas.


Vista geral

Níveis

Descrição da Jazida.

Nível 1 –

São visíveis 2 trilhos, um maior com várias pegadas consecutivas e alinhadas, curvando para a direita. Outro paralelo ao anterior, mais difuso mas onde se destacam 2 pegadas. A partir da imagem não se consegue, medir o ângulo de passo (pistas de dinossáurios bípedes de 150º a 180º, pistas de saurópodes de 90º a 120º (Santos, 2008)), nem aferir a forma das marcas, o que seria importante para perceber se os animais que as produziram seriam quadrúpedes ou bípedes. Tanto pode ser uma pista onde só as marcas de um dos autópodes do saurópode ficou bem preservada, como pode ser as marcas dos pés de um terópode, o que não seria de estranhar pois há referências da passagem deles, quer na Pedra da Mua, quer na Praia do Cavalo.



Nível 2 –

Notam-se várias pegadas dispersas e zonas onde se encontram mais concentradas. Também aqui não se consegue a partir da imagem perceber se os animais que as produziram seriam quadrúpedes ou bípedes. Embora a concentração me faça inclinar para saurópodes tendo em conta o comportamento gregário dos mesmos demonstrado na Pedra da Mua.


Nível 3 –

Apresenta pelo menos 2 trilhos de pegadas consecutivas e alinhadas. Além de várias pegadas dispersas. Que são visíveis até pelo Google Maps na escala de 5 m, o que possibilita determinar a grandeza possível dos trilhos; o oblíquo terá cerca de 30 metros e o horizontal cerca de 24 metros.

Atendendo à forma das marcas as maiores, ovais (pés) e as menores em forma de meia-lua (mãos), penso que se tratam de Saurópodes (quadrúpedes herbívoros). E com base na posição das marcas dos autópodes, em relação à linha média do trilho, conclui-se que seriam do tipo que Farlow (1992) apelidou de “wide-guage” (bitola larga), tal como os que deixaram os rasto na Pedra da Mua, também deverão pertencer ao icnogénero Brontopodus isp (Santos e Neto de Carvalho, 2016, Lockley, Meyer, Santos, 1994). 



Esquema dos trilhos.

 

Texto: Orlando Pinto, 2018

Origem das fotografias:  Google Maps; Orlando Pinto; esquemas: Orlando Pinto

Bibliografia: The tectono-stratigraphic evolution of an Atlantic-type basin:an example from the Arrábida sector of the Lusitanian Basin - J.C.Kullberg & M.C. Kullberg; Método de estudo de icnitas de dinosaurios y suinterpretación - J.C.García-Ramos, L.Piñuela y J.Lires; Brontopodus and Parabrontopodus ichnogen nov. and the significance of wide-and narrow-gauge sauropod trackways.- M.G. Lockley, L.O. Farlow, and C.A. Meyer (1994)