Nova pista de Dinossáurios será a 8ª desta vez, também na zona oriental da cordilheira da Arrábida. Na região denominada Vale da Rasca. Situa-se nas coordenadas 38°29'54.1"N 8°58'27.8"W. Encontrámo-la em 2018, quando de um passeio com os meus amigos, que os tinha massacrado para me levarem à da Secil, não era possível infringir as regras de propriedade privada. Então fomos há descoberta de uma área, que lhes tinham indicado onde haveria interesse. E de facto, concretizou-se. É mesmo outra jazida.

Ocorre em lajes sedimentares do Jurássico (carta geológica folha 38B – Setúbal), formadas por calcários Jp3, de há cerca de ±150 Milhões de anos. Provenientes de sedimentos de ambientes costeiros, ricos em fósseis de ostracodes, foraminíferos e algas calcárias, foi a impressão com que fiquei ao observar, localmente os inúmeros pontos escuros que a laje apresenta.

As fotos foram tiradas de uma arriba lateral da laje. O acesso a esta jazida de icnofósseis, devido à inclinação que apresenta, só pudera ser feito por corda e com equipamento de rappel, reunindo condições de segurança, pelo que ainda não me foi possível recolher fotos e medidas suficientes para um estudo completo da mesma. Apresenta alguns trilhos e numerosas pegadas. Neste estudo preliminar descrevo apenas o possível, de acordo com a informação que disponho neste momento. 

Vista geral da jazida - sendo bem visível o resultado dos movimentos tectónicos a que toda a zona da Arrábida foi sujeita durante as várias fases de rifting, resultando na exposição com grande inclinação de áreas carbonatadas anteriormente imersas, como que aflorando em zonas de arenitos e areias-argilosas de formação muito mais recente.


Ao longo da superfície inclinada da laje jurássica são visíveis pelo menos 4 trilhos, e várias pegadas e marcas que vou tentar descrever, com base nas ampliações que fiz das fotos que tiramos.

Pista 1 –

Do lado direito da laje, no nível exposto notam-se 5 grandes marcas consecutivas, que pela forma ovalada bem definida, na foto nº5 e nº3, e forma de crescente (semi-círculo) na foto nº2 bem definida e nº4 mal definida por erosão, torna-se evidente tratar-se pegadas de um saurópode de grandes dimensões.

Assumindo que a nº2 representa a marca da mão e a nº3, maior a do pé, da mesma forma que a nº4 e nº5, podemos inferir que o sentido da marcha deste herbívoro, quadrúpede seria no sentido das pegadas da nº5 em direcção à nº1, mal definida e muito desgastada pela erosão, mas ainda visível a marca do pé.

E com base na posição das marcas dos autópodes, em relação à linha média do trilho, ausência de espaço entre as margens internas das pegadas, conclui-se que seriam do tipo que Farlow (1992) apelidou de pistas de bitola estreita “ narrow-guage”. O que significa que a espécie de saurópodes que caminharam aqui (iremos verificar nas outras pistas a mesma ausência de espaço entre as margens internas das pegadas), são do mesmo icnogénero Parabrontopodus (Lockley et al., 1994), como no caso da Pedreira do Avelino e da Pedreira da SECIL.



Pista 2 –

Apresenta 4 marcas consecutivas, que atendendo à forma de crescente (semi-círculo) veja-se a marca P2-4 representam os autópodes anteriores de um saurópode, que se deslocava no sentido de P2-1 para P2-4, inflectindo para a esquerda.

Trata-se de um pista incompleta do tipo “manus dominated”, dominada pelas marcas em forma de crescente, das mãos de um saurópode que por lá passou, num “timing” diferente, com condições de preservação mais difíceis, já que o ambiente de sedimentação numa determinada área é definido por um conjunto de propriedades físicas, químicas e biológicas, diferenciadas das que podem ocorrer em áreas adjacentes, o que terá levado a que o registo das marcas dos pés tenha desaparecido.



Pista 3 –

Situada um pouco mais acima da anterior, também neste caso se verifica ser uma pista incompleta do tipo “manus dominated”, dominada pelas marcas em forma de crescente (semi-círculo), das mãos de um saurópode que por lá passou, talvez no mesmo “timing” do saurópode da pista 2, uma vez que as pegadas, ficaram preservadas em condições semelhantes.

Curiosamente a pegada P3-3, depois de feita a ampliação da foto, aparentava ter vestígios de dedos, o que caso se verificasse, tratar-se ia de uma marca de pé, porém comparada com vários exemplares de outras jazidas isso não se verificou, aliás deixo aqui alguns exemplos.



Adaptado de M.G. Lockley

Pista 4 –

É constituída por três grandes marcas, mal definidas (talvez sub-impressões, resultantes da impressão num estrato superior maleável e já erodido), sendo duas de mãos e uma de pé, de um saurópode de grande porte.

Se repararmos bem verifica-se que existem sobrepostas a estas marcas, no seu interior, pegadas de saurópodes mais pequenos. Semelhantes a moldes em relevo, com coloração e aspecto, divergente, devido à descontinuidade litológica provocada pela diferente composição do sedimento do estrato que cobriu o substrato.

O que significa que o grande saurópode terá passado bastante antes, num estrato brando e com condições de sedimentação diferentes do substrato de nível inferior.


Outros traços –

Na parte superior da laje avistam-se vários sulcos profundos, que fazem lembrar os visíveis aqui na região, (Lagosteiros, Praia do Cavalo, Mua), feitos por garras de Terópodes (bípedes carnívoros). 

Por definição as pegadas de terópodes (Kuban, 1994) caracterizam-se por impressões de três dedos longos e estreitos, terminadas por marcas de garras afiadas  e com a parte posterior da pegada em forma de “V”.

Porem as ampliações feitas às fotos, não me parece suficientemente conclusivo, pelo que não me convenceram de todo, falta averiguar o ângulo entre os dedos e os vestígios da marca do pé, ou uma argumentação plausível para o seu desaparecimento. De facto não seria estranho se fossem vestígios de pegadas de terópodes possivelmente do icnogénero Megalosauripus patente em jazidas da região (M.Lockley, C.Meyer, 1999). Será necessário lá voltar mas com um acesso por corda seguro e com equipamento de rappel, para in loco recolher elementos necessários para fundamentar conclusões.





Texto: Orlando Pinto, 2018

Origem das fotografias:  Google Maps;  Sandra Patrícia; João Ferrão; esquemas: Orlando Pinto 

Bibliografia: On the common occurrence of manus-dominated sauropod trackways in Mesozoic carbonates. - M.G. Lockley, J.G. Pittman, C.A. Meyer, and V.F. Dos Santos (1994); Brontopodus and Parabrontopodus ichnogen nov. and the significance of wide-and narrow-gauge sauropod trackways.- M.G. Lockley, L.O. Farlow, and C.A. Meyer (1994); Icnofósseis de Vertebrados: Importância e aplicações – P.C.Dentzien-Dias & C.L.Schultz (2006); Curso de Campo na Bacia Lusitânica(Portugal) - Rui Pena dos Reis & Nuno Pimentel (2006); A Bacia Lusitaniana: Estratigrafia, Paleogeografia e Tectónica - J.C.Kullberg et al,(2013);