A Gruta da Grande Falha ou Furna dos Segredos, conforme a população local a designava, foi explorada pela primeira vez pelo NECA - Núcleo de Espeleologia da Costa Azul a 30 de Setembro de 1995.
Instalada num deslumbrante enquadramento geológico, em pleno promontório do cabo Espichel, desenvolveu-se ao longo de planos de estratificação de calcários do Jurássico.
Revelou-se uma gruta tectonizada, sem as formações características a que nos habituámos a ver mas de uma diferente e profunda beleza, já que a sua morfologia foi altamente condicionada pela inclinação dos estratos onde se formou. Constituída por mais de 500 metros de galerias, que embora a proximidade do mar, contêm um reservatório de água doce, como que um pequeno rio subterrâneo, estimado em cerca de 200 metros de comprimento.
Imagine-se a passear num pequeno barco insuflável, bem no interior do cabo Espichel.
A gruta formou-se ao longo de três juntas de estratificação: a "Falha Norte" com 250 metros de comprimento e 4 metros de profundidade; a "Falha das Esferas" com 120 metros de comprimento e 6 metros de profundidade e a "Falha Sul" com 150 metros, tendo a particularidade de todas elas apresentarem água doce.
A entrada da cavidade situa-se perto da base da arriba, na "Falha Norte" , um pouco acima da rebentação marinha, pelo que o acesso tem de ser feito por rappel de 110 metros descendo a ravina quase vertical, considerado de dificuldade muito elevada.
Publicado em 03/09/2012 - YouTube
Uma vez chegados á cavidade, do lado esquerdo deparamos com uma pequena passagem que nos possibilita descer até ao "rio subterrâneo", de água cristalina e transparente, que nos permite ver o fundo de argila clara.
Trata-se de um galeria rectilínea em V invertido, com cerca de 20 metros de altura em que a largura oscila entre 1 e cerca de 4 metros, é bom lembrar que os estratos que formam as paredes da gruta têm uma inclinação próxima dos 60º Norte. O tecto encontra-se preenchido por uma imensa colónia de morcegos atribuídos às espécies Morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii) e Morcego-pequeno-de-ferradura (Rhinolophus hipposideos).
Os primeiros 70 metros são feitos em barco insuflável, ao longo do "rio subterrâneo", enquanto nos últimos a progressão já é feita por entre blocos de calcário e argila, atingindo o fim da galeria o regresso teremos de voltar em sentido inverso para acedermos á "falha intermédia" designada por "Falha das Esferas", nome que lhe foi atribuído pela existência de algumas esferas em calcário do Jurássico Superior.
Esta galeria, tal como a anterior também se encontra parcialmente preenchida com um curso de água doce. Apresenta um tecto com uma abóbada a cerca de 3 metros de altura, de onde parte uma fenda longitudinal bastante estreita.
A entrada para a galeria da "Falha Sul", é feita pelo exterior contornando a base da falésia no sentido poente, uma vez que até á data não foi detectado nenhum acesso interior de comunicação com as outras galerias. Também contém água mas em menor quantidade, não sendo necessário o recurso a pneumáticos para a progressão, e já um pouco salobra, uma vez que a entrada se situa a 1 metro do nível do mar. Apresenta uma morfologia em tudo idêntica ás anteriores galerias e termina estreitando-se até impedir a progressão.
No final da exploração das três "Falhas" vêm o pior da jornada, o regresso ao topo da arriba do Cabo, a colossal subida em rappel, normalmente feita em três lances para descanso e mudança de cordame.
Slide Show - Momentos na Gruta da Grande Falha
Publicado por O. Pinto em 25/02/2014 - YouTube
Texto: Orlando Pinto, 2014
Origem das fotografias: espeleologia-neca.blogspot.pt ; carlossargedasfotografo.blogspot.pt ; espelaion.blogspot.pt
Bibliografia: Revista Forum Ambiente nº 24, Março 1996; Revista Forum Ambiente nº 49, Junho 1998; espelaion.blogspot.pt/2008/; Exposição Fotográfica - carlossargedasfotografo.blogspot.pt/2010