A Gruta também conhecida por Fojo dos Morcegos, situa-se, no maciço da Serra da Arrábida, entre Sesimbra e o morro de Alpertuche, GPS (38º 27' 17" - 9º 00' 54"). Desenvolve-se em plena arriba vertical da serra, tendo cerca de 100 metros, ao longo de terrenos calcários do Jurássico. À sua frente existe uma mini praia de seixos rolados, que é submersa pela maré, pelo que a sua acessibilidade pode ser feita por mar, ou por terra descendo com cordas, mas sendo absolutamente necessário ter em atenção o horário das marés, para que se possa entrar e sair em segurança.
Foi descoberta em data indeterminada, não dispomos de dados coerentes, que possibilitem fazer uma afirmação correcta, mas tal como outras da região decerto já há muito tempo seria do conhecimento das populações locais. Lembramos apenas, que G. Zebyzesky, já a conhecia, anteriormente a 1941, pois a citou a alguns amigos, nomeadamente A. B. Machado, da Universidade do Porto, que, em Julho de 1941, veio explorar a sua fauna. O NECA - Núcleo de Espeleologia da Costa Azul identificou-a em 1994.
Do ponto de vista espeleológico, a Gruta dos Morcegos, têm a entrada na base de uma alta falésia, de terrenos calcários do Jurássico, a qual está meio obstruída por grandes pedras, resultantes dos movimentos marinhos que a cercam. Logo a seguir, surge-nos uma primeira galeria meio submersa, que apresenta um estrangulamento também inundado, desembocando aparentemente em duas outras salas onde prolifera a colónia de morcegos.
A primeira é seca, tendo-se a sensação de já ter sido inundada em épocas anteriores, passa-se à segunda, já inundada, onde ainda se notam restos de tábuas depositadas possivelmente por camponeses de Azeitão em busca do guano dos morcegos (1), deparamos com um charco de pequena profundidade e de repente apercebemo-nos, que afinal a gruta não acaba ali, mas ainda à mais pelo menos duas salas, onde as colónias de morcegos se desenvolvem, parecendo um autêntico santuário destas espécies.
As suas formações são comuns a uma gruta natural sendo as espeleoformas normais sem nada de especial a assinalar, a não ser a quantidade apreciável, de guano, que nalgumas galerias, cobre o solo e as paredes, tornando as espeleoformas quase negras e provocando uma saturação de vapores que se expandem na atmosfera respirável.
Apresenta uma característica, invulgar faz o papel de "colector" das águas da depressão das Terras do Risco, que no período de enxurradas, se escoam pelos vários Sumidouros naturais existentes, para o endocarso e após cerca de quatro dias, surgem na Gruta dos Morcegos, (Crispim, 2006) , no capítulo Algares e Sumidouros trataremos deste assunto em detalhe.
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Do ponto de vista arqueológico, não existem ainda vestígios assinalados, contrariamente ao que seria expectável dada a proximidade da Gruta da Figueira Brava, da Lapa de Santa Margarida, etc..., talvez porque os vestígios se encontrem selados, pelo guano que cobre parte do chão, ou porque achados de superfície tenham há muito sido levados.
Espólio Biológico da Exploração em 1941, pelo Dr. A. Barros Machado do Instituto de Biologia da Universidade do Porto :
Na primeira galeria: "artrópodes comuns; grandes isópodes escuros, e a aranha das casas Teutana grossa; ... um macho e uma fêmea de uma espécie de aranha ainda não publicada (Tegenaria aff. silvestris n. sp.); ... uma aranhita pálida, que se me escapou, ... poderia talvez ser um Lephthyphantes" (Barros Machado,1945).
Num charco mais à frente, depositado no solo estalagmítico "vários anfípodes brancos, nadando às sacudidelas, como é hábito destes crustáceos" (Barros Machado,1945).
Estes anfípodes observados ao microscópio, revelaram-se cegos e despigmentados, o autor da descoberta (A.B. Machado) , enviou-os ao Museu Zoológico de Berlim, onde o Dr. Schellenberg, os classificou como pertencentes, a "uma forma um pouco aberrante de Pseudoniphargus africanus (Chevreux, 1901), o único anfípode cavernícola citado até hoje da Península Ibérica".
A revelação deste ser minúsculo, tem grande importância, bio geográfica, dado a sua antiguidade e área de distribuição muito fragmentada, havendo referências a descobertas em poços da Argélia, nas grutas de Santander e Guipuzcoa (Espanha), em charcos estalagmíticos do convento de Split (Croácia), e no poço do seminário do Funchal (Madeira). Tendo em atenção, que altitude das diversas localizações, das ocorrências, variam entre a cota 0 e os 1000 metros de altitude e que as ascendências filogenéticas do Pseudonipbargus, pertencente ao género Crangonyx, não possui nenhum representante marinho, são uma das razões que levou o Dr. Schellenberg a dizer que "a distribuição do género Pseudonipbardus é testemunho seguro da antiga ligação entre a Madeira e o Continente, ligação que, segundo o parecer mais geral, desapareceu no Miocénico, isto é no período de que datam os mais antigos fósseis conhecidos de anfípodes" (Barros Machado,1945).
Uma concha de gastrópode, recolhida nesta mesma exploração foi classificada, pelo Prof. Dr. Augusto Nobre, como pertencente a uma espécie de águas salobras, denominada "Alexia myosotis" (Barros Machado,1945).
Nas outras salas: Predominam colónias de morcegos "Myotis myotis, a espécie de tendências mais gregárias de quantas habitam as cavernas do nosso país. É provável que na sua companhia se encontrasse o minúsculo Miniopterus schreibersii, seu satélite habitual" (Barros Machado,1945).
Texto: Orlando Pinto, 2014
Origem das fotografias: osnossostrilhos.blogspot.pt/ ; vivernocampo.blogspot.pt/ ; divefoto.blogspot.pt/ ;
Bibliografia: Informação do sr. Luiz Gonzaga do Nascimento - in Àcêrca da Lapa dos Morcegos da Arrábida e da sua fauna - Separata do nº8 do Boletim da Junta de Província da Estremadura - 1945 ; Chevreux, ED., Amphipodes des eaux souterraines de France et d'Algérie.«B.S. Zoll. France» 26 ,1901; GEM - Grupo de Espeleologia e Montanhismo 14/04/2012 - Visita ao Fojo dos Morcegos, Arrábida